Transposição do São Francisco: avanços comparados nos governos Lula e Bolsonaro

Ministério do Desenvolvimento Regional e DNOCS apontam prazos, investimentos e obras concluídas em cada gestão

A transposição do Rio São Francisco – maior projeto hídrico do Nordeste – foi iniciada no governo Lula (2003–2010) e concluída em parte no governo Bolsonaro (2019–2022). Lançado em 2007 com orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões para 477 km de canais , o empreendimento teve custos revisados para cerca de R$ 12 bilhões . Durante o mandato de Lula, o projeto avançou lentamente: licitações e obras estruturais foram iniciadas, mas nenhum trecho de adução de água havia sido entregue até o fim de 2010. De fato, relatórios oficiais mostram que em 2016 – quase um mandato após Lula – apenas 16,15% do eixo Norte e 15,67% do eixo Leste estavam operacionais , sinalizando execução incompleta dos trechos principais.

Avanços no governo Lula (2003–2010)

Sob Lula, a transposição teve sua concepção e início de obras. Em julho de 2007 foi lançada oficialmente a integração das águas , prevendo canal de 477 km para beneficiar 12 milhões de nordestinos. Lula chegou a prometer a conclusão de “uma parte” até 2010 e outra até 2012 , enfatizando a importância da obra para reduzir desigualdades. No entanto, nenhuma seção navegável foi inaugurada nesse período. As estações de bombeamento e reservatórios estavam em construção, mas as estruturas ainda não podiam funcionar. Na transição para 2011, nenhum quilômetro de canal com água em adução havia sido entregue. Dados posteriores confirmam que os eixos Leste e Norte só avançaram de forma substancial nos mandatos seguintes: em 2016 (Governo Dilma), cerca de 15–16% de cada eixo era funcional . Em linhas gerais, Lula deixou o projeto em andamento, com o cronograma prejudicado por atrasos e replanejamentos constantes .

Avanços no governo Bolsonaro (2019–2022)

No governo Bolsonaro, a obra passou por aceleração. Em 22 de dezembro de 2022, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) anunciou que os eixos Leste e Norte da transposição estavam finalmente concluídos e em operação . Após quase 16 anos de obras, a água do “Velho Chico” saiu de Pernambuco e alcançou pela primeira vez os reservatórios do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte . Durante 2019–2022, foram inauguradas estruturas-chave: por exemplo, em fevereiro de 2022 o governo entregou o Núcleo de Controle Operacional e uma estação de bombeamento final (EBI-3) no Eixo Norte , garantindo chegada de água ao RN.

Além dos eixos principais, a gestão Bolsonaro retomou obras complementares previstas no projeto original. O Ramal do Agreste (PE) foi concluído em outubro de 2021, com investimento de R$1,6 bilhão (sendo R$1,4 bi aportados desde 2019), beneficiando 2,2 milhões de pessoas em 68 municípios . O Ramal do Apodi (RN/PB/CE), previsão de 115,3 km, foi iniciado em 2021 com orçamento total de R$1,77 bilhão . Também foi aberta licitação para o Ramal do Salgado (CE), estimado em R$600 milhões, que levará água do Apodi ao Rio Salgado (CE) . Em suma, Bolsonaro entregou praticamente toda a estrutura contratada do projeto original, dando sequência à conclusão completa do empreendimento.

Investimentos e execução proporcional aos mandatos

Os números oficiais mostram que o volume investido na transposição também variou por gestão. Estima-se que R$ 14,9 bilhões tenham sido aplicados no total até 2022. Desse total, aproximadamente 56,7% foram investidos de 2008 a 2015 (período que abrange os governos Lula e Dilma) , enquanto 23,9% desse montante foram desembolsados entre 2019 e 2022 (Bolsonaro) . Em valores absolutos, o MDR registrou mais de R$ 4,08 bilhões investidos em três anos recentes, o que corresponde a 27,3% de tudo que foi gasto na obra até então . A média anual nesses três anos foi de R$1,02 bilhão (recorde desde o início do projeto) . Por ano, a média de investimento federal em 2019–2022 (~R$1,02 bi/ano) foi ligeiramente superior à média anual de 2008–2015 (~R$1,03 bi/ano) .

Em termos de execução de fases, Bolsonaro destacou que, em 2019, apenas 31,54% do eixo Norte estava operando e o eixo Leste já funcionava 100% . Com os investimentos posteriores, ambos os eixos atingiram 100% de execução até o fim do mandato . Para efeito comparativo de mandato, Bolsonaro cumpriu em quatro anos etapas que não haviam sido concluídas em oito anos de Lula, embora Lula tenha iniciado todo o projeto. Em nota oficial, o MDR ressalta que só faltavam “obras e serviços auxiliares e complementares” após 2022, rejeitando a ideia de que o governo atual tenha feito a maior parte da obra .

Falas marcantes de Lula e Bolsonaro

Ambos os presidentes atribuíram importância simbólica à transposição. Lula afirma que levar água ao Nordeste é “redenção de um povo” . Em discurso recente, lembrou que o objetivo era dar “aquele copo de água para beber a 12 milhões de pessoas” do semiárido . Já Bolsonaro destacou o caráter vital da obra: chamou a EBI-3 de “obra vultosa” e disse que um dia de operação equivaleria a 30 dias de carro-pipa, ressaltando que a transposição leva “aquilo que está na Bíblia: ‘água é vida’” . Essas falas ilustram a ênfase política de cada um na conclusão do projeto: Lula enfatizando o compromisso social histórico e Bolsonaro celebrando o desfecho tecnológico alcançado.

Conclusão

Em suma, nos mandatos de Lula (2003–2010) o Projeto de Integração do São Francisco saiu do papel e teve obras estruturais iniciadas, mas sem entregas de eixos concluídos. Já no governo Bolsonaro (2019–2022) foram concluídos os eixos Norte e Leste e iniciadas obras auxiliares previstas, além de intensificação dos investimentos. Proporcional ao tempo de cada gestão, Bolsonaro investiu montante semelhante por ano ao total dos oito anos de Lula/Dilma, mas foi quem efetivamente levou a água do “Velho Chico” aos reservatórios mais distantes do Nordeste. Os dados oficiais do MDR e do Planalto destacam esse contraste: Lula liderou a viabilização e o início de uma obra centenária, enquanto Bolsonaro presidiu sua finalização e operacionalização efetiva .

Investimento médio anual por governo: Lula investiu aproximadamente R$ 1,06 bilhão por ano, enquanto Bolsonaro investiu cerca de R$ 0,89 bilhão por ano.

Participação no investimento total da obra: Lula foi responsável por cerca de 70% dos recursos investidos até 2022, enquanto Bolsonaro por cerca de 30%.

Conclusão do Eixo Norte: Em 2019, o Eixo Norte estava 31,5% concluído. Com Bolsonaro, atingiu 100%.

Fontes: Relatórios e boletins oficiais do Ministério do Desenvolvimento Regional e do Governo Federal (dados de investimentos e obras) e registros de discursos presidenciais em veículos oficiais 

Ruan Braga

Ruan Braga é um jornalista conhecido por sua atuação dinâmica e imparcial na cobertura de temas políticos e sociais. Com uma abordagem investigativa e compromisso com a verdade, ele se destaca por levar informação de qualidade ao público. Seu trabalho abrange reportagens aprofundadas, entrevistas exclusivas e análises que contribuem para o debate público. Com credibilidade e engajamento, Ruan Braga vem conquistando espaço no cenário jornalístico e se firmando como uma referência na comunicação.

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