Contexto: Tarifa de 50% e crise diplomática
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros reacendeu tensões diplomáticas e econômicas entre os dois países. Embora Trump tenha justificado a medida como resposta ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à suposta “caça às bruxas” contra aliados políticos, analistas e autoridades internacionais apontam que há fatores geopolíticos mais profundos por trás da decisão.
O papel do BRICS e a proposta de nova moeda
Durante as recentes cúpulas do BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu publicamente a criação de alternativas ao dólar nas transações comerciais entre os membros do grupo. A proposta, que ganhou força em 2024 e 2025, prevê o desenvolvimento de um sistema de pagamentos próprio e, futuramente, uma moeda comum para o bloco, reduzindo a dependência do dólar e do euro nas trocas internacionais.
Segundo o chanceler russo Sergei Lavrov, foi o próprio Lula quem iniciou o debate sobre a criação de sistemas alternativos de pagamento ao dólar durante a cúpula do BRICS em Joanesburgo, em 2023. Lavrov afirmou que o tema se tornou prioridade da presidência brasileira do bloco em 2025, destacando o empenho do governo brasileiro em avançar com essa agenda.
Reação dos EUA e impacto global
A proposta de uma moeda do BRICS é vista por Washington como uma ameaça direta à hegemonia do dólar no comércio internacional. O temor é que a adoção de um sistema alternativo fortaleça a autonomia financeira dos países emergentes e reduza a influência dos EUA sobre mercados estratégicos.
A resposta de Trump, com a imposição de tarifas elevadas, é interpretada por especialistas como uma tentativa de pressionar o Brasil e os demais membros do BRICS a recuarem na iniciativa de desdolarização. O Kremlin, por sua vez, declarou que qualquer tentativa dos EUA de forçar o uso do dólar tende a acelerar o movimento global de adoção de moedas nacionais e alternativas, enfraquecendo ainda mais a posição do dólar como reserva internacional.
Lula e o protagonismo brasileiro no BRICS
Lula tem reiterado que o objetivo não é substituir as moedas nacionais, mas criar mecanismos que permitam maior independência financeira e menor vulnerabilidade frente a sanções e oscilações do sistema financeiro internacional. Entre as medidas defendidas estão:
• Criação de um sistema de pagamentos próprio do BRICS;
• Ampliação do uso de moedas locais nas transações entre os membros;
• Fortalecimento do Banco de Desenvolvimento do BRICS (NDB), presidido atualmente por Dilma Rousseff;
• Desenvolvimento de infraestrutura financeira independente do Ocidente.
Perspectivas
A escalada tarifária promovida por Trump pode ter efeitos limitados no comércio bilateral, mas representa um marco simbólico na disputa por influência global. A iniciativa brasileira no âmbito do BRICS, especialmente sob a liderança de Lula, coloca o Brasil no centro do debate sobre o futuro do sistema financeiro internacional e a multipolaridade econômica.
Especialistas alertam que, embora a criação de uma moeda comum do BRICS ainda enfrente desafios técnicos e políticos, o avanço das discussões já provoca reações contundentes dos Estados Unidos, evidenciando o impacto estratégico da proposta brasileira