A mais recente crise interna da direita bolsonarista ganhou os holofotes após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) subir o tom contra o também deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) na rede social X (antigo Twitter), evidenciando divisões e disputas de protagonismo no campo conservador brasileiro.
O estopim
A nova rodada da polêmica teve início quando Eduardo reagiu a uma postagem do blogueiro Allan dos Santos — atualmente foragido da Justiça — que criticava uma suposta participação de Nikolas Ferreira em um Space com a influenciadora digital conhecida como “Baianinha Intergaláctica”, figura que se define como ex-bolsonarista e tem feito duras críticas à família Bolsonaro.
Allan escreveu:
“Isso aconteceu mesmo? Se sim, o @nikolas_dm é canalha, pois essa vadia já falou merda até de minha filha doente.”
Eduardo Bolsonaro respondeu em seguida:
“Ela é uma pessoa abjeta, que defende a minha prisão e de minha família. É triste ver a que ponto o Nikolas chegou.”
A fala viralizou entre apoiadores e críticos, e expôs, mais uma vez, as tensões entre o núcleo duro do bolsonarismo e nomes emergentes da nova direita.

Tensão pré-existente
A rusga entre Eduardo e Nikolas não surgiu agora. Na semana anterior, Eduardo já havia cobrado publicamente mais engajamento de Nikolas na luta contra o tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Para o deputado paulista, apenas uma anistia ampla para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro poderia fortalecer a oposição conservadora no país, e ele esperava uma postura mais ativa do colega mineiro.
A insatisfação de Eduardo, no entanto, não se restringe a Nikolas. Também se estende a outras lideranças da direita institucional, como os governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ratinho Júnior (PR), evidenciando um ambiente interno cada vez mais fragmentado.
Bastidores e repercussão
A repercussão das críticas públicas causou incômodo dentro do PL e entre parlamentares ligados à bancada ruralista. Alguns consideram a postura de Eduardo excessiva e prejudicial à imagem do partido, além de dificultar articulações políticas em meio à tentativa de reverter o tarifaço nos Estados Unidos.
Há ainda uma crescente insatisfação com o que alguns classificam como uma defesa intransigente e personalizada da família Bolsonaro, o que reacende a disputa pelo “espólio político” do ex-presidente, hoje inelegível até 2030.
Nikolas, que atualmente detém o maior alcance digital entre os parlamentares brasileiros, evitou alimentar o confronto. Até o momento, não respondeu diretamente aos ataques de Eduardo, nem comentou publicamente o episódio envolvendo a influenciadora.
Impacto político
O episódio evidencia fissuras cada vez mais visíveis no bloco bolsonarista e reforça o clima de disputa interna por protagonismo à direita. Eduardo Bolsonaro, autoexilado nos Estados Unidos desde fevereiro, busca consolidar-se como principal herdeiro do legado de seu pai, mas encontra resistência tanto entre aliados históricos quanto entre a nova geração da direita.
A cobrança por lealdade absoluta e alinhamento total mostra-se cada vez mais insustentável em um campo político que tenta se reorganizar para as eleições de 2026. A crise atual serve como alerta sobre os desafios de unidade na oposição, especialmente no momento em que o campo conservador tenta se reposicionar nacionalmente.
O caso de Eduardo e Nikolas deve pautar os bastidores da política nos próximos meses — não apenas no Sudeste, mas também no chamado “Brasil sertão”, onde a disputa pela narrativa conservadora continua viva e intensa.