Petrolina amanheceu inquieta. Enquanto o presidente Lula cumpre agenda em Juazeiro, a poucos quilômetros de distância, a maior cidade do Sertão pernambucano só saberá da visita presidencial porque o avião vai mesmo pousar em seu aeroporto. Nenhuma autoridade municipal foi avisada oficialmente e entre aliados do prefeito Simão Durando, herdeiro político do grupo dos Coelho, o silêncio do Palácio do Planalto foi sentido como um desprestígio calculado — um recado político claro para a velha oligarquia sertaneja.
O grupo comandado por Miguel Coelho e seu pai, o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, era dado como um dos bastiões do bolsonarismo no Nordeste. Foi FBC, inclusive, quem ocupou posição de destaque no governo Bolsonaro, chegando a ser líder do governo no Senado. Miguel, ex-prefeito, tentou surfar a popularidade local disputando o Governo do Estado em 2022, apostando inclusive em uma das campanhas mais alinhadas ao discurso bolsonarista da região. Quando o vento mudou em Brasília, ambos ensaiaram uma reaproximação protocolar com Lula após a apoteótica vitória petista, tentando não perder espaço em órgãos federais como a Codevasf — mas tudo muito pragmático e nada afeito a alinhamentos públicos ou gestos calorosos ao petismo.

Nunca houve encontro marcante ou proximidade política entre Lula e Miguel Coelho. O ex-prefeito procura se afirmar como gestor, tenta dialogar pragmaticamente com qualquer Planalto, mas segue distante do lulismo sentimental e factual. As declarações de Miguel sempre mantêm tom crítico ao PT, e as tentativas do grupo Coelho de manter bases em Brasília são vistas por muitos como mero jogo de sobrevivência política — nada que gere reciprocidade entusiasmada do círculo presidencial.
A escolha do presidente em ignorar institucionalmente a Prefeitura de Petrolina e o clã local exacerba o desconforto entre as lideranças tradicionais da cidade. O Planalto faz questão de marcar território e não dividir palanque ou protagonismo nesse momento. No bastidor, aliados de Simão Durando sentem que o recado foi direto: quem flertou com a divisão agora precisa esperar no café do aeroporto, enquanto o poder federal prestigia quem está coeso no projeto de Lula para o Nordeste. O episódio apimenta ainda mais a rivalidade entre Pernambuco e a Bahia, mas principalmente, incendeia debates sobre o futuro do grupo Coelho em tempos de rearranjo político em Brasília.